O ano era o de 1942. O Esporte Clube Bahia tinha apenas 11 anos de fundação e seis títulos estaduais. No ano anterior, fora despejado de sua sede na Avenida Princesa Isabel por não ter pago os aluguéis do local. O clube quase decretou falência, já que não tinha condições de sequer pagar seus funcionários. A situação era caótica.
Naquele ano, o Bahia teve um de seus piores aproveitamentos em Estaduais. Nos seis primeiros jogos, foram apenas cinco pontos (trazendo para o presente e creditando três pontos a cada triunfo), com uma vitória, dois empates e três derrotas. Terminou a competição em penúltimo lugar, à frente apenas do Guarany. O Galícia sagrava-se bicampeão baiano.
Setenta anos, duas “Fontes Novas” e 38 títulos estaduais depois, o Bahia vive um momento técnico e político conturbado. E mais: o desempenho no Campeonato Baiano é o pior desde aquele fatídico ano de 1942: em seis jogos, são sete pontos, com apenas um triunfo. Graças à formula de disputa, o Tricolor ainda sonha com tranquilidade com uma classificação para as semifinais. Mas com um rendimento pífio.
Em 2011, a diretoria do Bahia classificou a administração do clube como “futurista”. Chamou os olheiros de futebol de “arcaicos” e creditou ao Departamento de Análise de Desempenho de Atletas, conhecido como DADE e capitaneado por Paulo Angioni, a avaliação de contratações como Gil Bahia, Gerley, Victor Lemos, Denilson e Romário. Possivelmente, o mesmo departamento que avaliou jogadores como Thuram, Brinner e Toró. Obviamente que é imprescindível que se tenha um grupo de especialistas que analise o mercado e faça contratações e apostas dentro da realidade do clube, mas também é preciso explicar se o “futurismo” é a curto, médio ou longuíssimo prazo, bem como a qualidade contestável dos reforços.
O fato é que ser “futurista” no Bahia resume-se a apostar em reforços do passado, como Adriano, Lucas Fonseca e Rafael Donato. É manter jogadores que contribuiram no passado mas não rendem no presente, como Titi, Hélder, Diones e Souza. É trazer esperança em táticas obsoletas, como as de Joel Santana. É esquecer quem pode fazer um futuro menos doloroso, como Madson, Jussandro, Anderson Talisca, Ítalo Melo e Matheus. É machucar àqueles que estiveram juntos num passado ainda mais doloroso, como o torcedor tricolor.
Ainda há tempo de mudar o cenário. O título estadual, que pode vir até com apenas mais um triunfo nos próximos quatro jogos, não é algo que pareça impossível. Porém, não pode tornar-se uma “muleta” para se manter uma filosofia futurista-de-máquina-do-tempo. O Campeonato Brasileiro pode tornar-se um pesadelo com 38 capítulos se pouco ou nada for feito. Hoje, o Bahia não conta com um novo Carlos Wildberger, como contou na década de 1940, para salvar o clube da situação controversa em que atualmente vive. A direção tricolor acha que pensa moderno, mas age como os arcaicos olheiros aos quais se referiram um dia.
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