Com apenas 13 anos, o estudante Jeferson Silva Costa já perdeu as contas de quantas vezes calçou o par de botas plásticas e entrou no canal da Rua Nilo Peçanha para ajudar a desentupir uma vala. Em período de chuva, é sempre a mesma coisa: o lixo deixado na rua é levado pela correnteza e entope valas, bueiros e bocas de lobo, além de transbordar canais e alagar imóveis.
“A água já chegou no meu pescoço. Eu coloco um plástico para não entrar água no meu pé, mas não tem jeito. O povo é mal-educado e acaba sendo o próprio prejudicado”, diz o estudante, que mora na Rua Padre João de Azevedo, transversal da Nilo Peçanha.
O lixo encontrado lá é apenas parte do que é recolhido na cidade diariamente. Desde o início da Operação Chuva, no dia 1º, a Limpurb tem coletado uma média de 6 mil toneladas por dia em toda a cidade, segundo a presidente do órgão, Kátia Alves. “Metade é de resíduos domésticos. O restante é entulho”, informou.
No caso da Nilo Peçanha, o lixo chegou a atrasar as obras de recuperação da via, que ocorrem desde 23 de março. A previsão, segundo a Superintendência de Conservação e Obras Públicas (Sucop), era de que o serviço durasse um mês. Mas, com a chuva e a quantidade de lixo, o encerramento está previsto para 20 de maio.
“Na verdade, precisamos dragar 760 metros de canal, do qual foram retirados 860 metros cúbicos de lixo, entulho e lama. A limpeza não era feita há quase 30 anos”, disse o superintendente da Sucop, Antonio Carlos Batista Neves. O volume retirado equivale a 172 caixas de entulho de cinco metros cúbicos cheias.
Os moradores não negam o descarte indevido. “Eu deixo o lixo no poste. Todo mundo deixa, eu deixo também. Só tem um contêiner e ninguém vai lá”, conta a estudante Ana Paula Menezes, 25. Ana Paula reconhece que falta consciência e educação, mas cobra da prefeitura mais contêineres. “Se não tiver onde colocar, vão continuar jogando na rua”. A Limpurb diz que há quatro contêineres na via.
No entanto, para a presidente do órgão, Kátia Alves, existem outras alternativas. “A principal é estimular a população a produzir menos resíduo. Sou contra contêineres, porque se deterioram e atraem roedores e insetos”. Segundo ela, a prefeitura gasta R$ 1 milhão por dia com limpeza.
Drenagem Quem insiste em jogar lixo onde não deve corre o risco de obstruir o sistema de drenagem da cidade, de acordo com o professor de Engenharia Civil da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Luís Edmundo Campos, especialista em solos.
“Isso acontece o ano inteiro, não só durante as chuvas, mas agora vemos as consequências. A água não pode ser escoada com os bueiros entupidos”, explica o professor. Daí vem o aumento no número de alagamentos na cidade. “Seria interessante fazer a limpeza dos bueiros pelo menos a cada 15 dias”.
Para fugir da água, os moradores têm que ser criativos. A dona de casa Ednalva Maria Souza, 61, vizinha de Jeferson, precisou construir uma barricada bem na porta de casa. Para entrar e sair, dona Ednalva, que tem artrose, precisa vencer três degraus, atravessar um trecho que acumula um palmo de água e passar por mais quatro degraus, que alcançam quase um metro. De lá, ainda tem que saltar para a calçada. Ainda assim, a água invade o imóvel.
Quem também sofre é o técnico em manutenção Luiz Cláudio Castro, 43. O canal Rio das Pedras passa atrás do terreno dele, na Boca do Rio. “O meu vizinho comprou um terreno e começou a aterrar, mas não fez a contenção. Quando chove, o lixo vai para o canal. Toda a parte do comércio alaga”.
Praias
Quando chove, trabalhar no mar é quase impossível. Motivo? O lixo. O pescador Fernando Gurriti, 59, já está há uma semana sem trabalhar. “E é provável que a gente fique mais uma semana, porque depois vem a ressaca”, explica. É durante a ressaca que aparece o lixo. “Fica todo na areia. A maior parte vem do canal do Lucaia, que desemboca na Mariquita e uma corrente traz para cá”, conta o pescador, da Colônia do Rio Vermelho. Os 130 homens da Limpurb que estão trabalhando na limpeza das praias já retiraram 320 toneladas de lixo na orla em oito dias, segundo o órgão. A maior parte foi entre o Costa Azul e a 3ª Ponte: 240 toneladas. O restante estava entre o Porto da Barra e o Jardim dos Namorados.
Detritos nas encostas provocam maioria dos deslizamentos
Quando chove, trabalhar no mar é quase impossível. Motivo? O lixo. O pescador Fernando Gurriti, 59, já está há uma semana sem trabalhar. “E é provável que a gente fique mais uma semana, porque depois vem a ressaca”, explica. É durante a ressaca que aparece o lixo. “Fica todo na areia. A maior parte vem do canal do Lucaia, que desemboca na Mariquita e uma corrente traz para cá”, conta o pescador, da Colônia do Rio Vermelho. Os 130 homens da Limpurb que estão trabalhando na limpeza das praias já retiraram 320 toneladas de lixo na orla em oito dias, segundo o órgão. A maior parte foi entre o Costa Azul e a 3ª Ponte: 240 toneladas. O restante estava entre o Porto da Barra e o Jardim dos Namorados.
Detritos nas encostas provocam maioria dos deslizamentos
A maioria dos casos de deslizamento tem relação com o lixo nas encostas. É o que garante o subcoordenador de resposta aos desastres da Defesa Civil (Codesal), Francisco Júnior. Desde o início do mês, a Codesal encaminhou 138 pedidos de limpeza de encostas para a Limpurb. Essas solicitações incluem a retirada do lixo e rebaixamento de vegetação, para a colocação de lonas. “Esse descarte é revertido contra a própria população”.
Aliás, mais que deslizamentos de terra, o lixo colocado nas encostas pode provocar alagamentos de grandes áreas. É como num ciclo. O lixo faz a terra deslizar. Essa, por sua vez, provoca alagamentos ao ser levada, junto com o lixo para o meio da rua, confirma o professor da Ufba e especialista em solos, Luís Edmundo Campos.
“O lixo depositado aumenta o peso nas encostas. Com a chuva, esse material faz uma uma espécie de escavação na terra, deixando-a solta”, explica. Em seguida, a chuva empurra encosta abaixo a terra e o lixo. É o deslizamento. “Quando atinge a via, essa terra transportada obstrui o sistema de drenagens e ajuda na enchente”, completou.
Desde o início do mês, a Defesa Civil registrou 952 solicitações de emergência. Destas, 55 foram alagamentos e 199 deslizamentos de terra.
A Climatempo diz que há risco de chuva forte para hoje e amanhã. O termômetro não deve passar dos 28° C.
São Paulo e Porto Alegre multam por lixo na rua
São Paulo e Porto Alegre multam por lixo na rua
Na cidade de São Paulo, a prefeitura multa quem joga lixo na rua desde 2002, assim como em Porto Alegre. A partir de julho, o Rio de Janeiro também vai entrar nessa lista. No entanto, não há uma lei federal para punir o ato de jogar lixo nas ruas.
Em Salvador, o prefeito ACM Neto disse que prefere não comentar ainda sobre punições. Também não há um possível esquema de fiscalização para o descarte de lixo por moradores de Salvador. “Prefiro ainda não falar em medida coercitiva, porque nos últimos anos a Prefeitura também não fez a sua parte”, diz.
O prefeito afirmou, entretanto, que pretende lançar em breve na capital baiana um projeto de mobilização popular para limpeza pública nos bairros, a exemplo do que já acontece com sucesso em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Lá, o projeto implantado chama-se Cidadão Auditor e leva benefícios para bairros com melhores desempenhos por parte dos moradores.
* INUNDAÇÃO EM NÚMEROS
6 mil toneladas de lixo são recolhidas todos os dias pela Limpurb, desde o início da Operação Chuva.
860 metros cúbicos de lixo e entulho foram recolhidos só no canal da rua Nilo Peçanha.
952 solicitações de emergência foram registradas pela Defesa Civil em abril.
138 pedidos de limpeza de encostas encaminhados à Limpurb pela Codesal
* INUNDAÇÃO EM NÚMEROS
6 mil toneladas de lixo são recolhidas todos os dias pela Limpurb, desde o início da Operação Chuva.
860 metros cúbicos de lixo e entulho foram recolhidos só no canal da rua Nilo Peçanha.
952 solicitações de emergência foram registradas pela Defesa Civil em abril.
138 pedidos de limpeza de encostas encaminhados à Limpurb pela Codesal
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